quarta-feira, 19 de março de 2014

Viajando nas páginas de Izabel e degustando sentidos...

Maria Stela Torres Barros Lameiras
Verão - 2014

O livro de Izabel Brandão já dispensa, por si só, a embalagem de um lindo presente – ele já é um presente.  Dá-nos mesmo a impressão de que estamos entrando em um jardim, com a capa florida, parecendo anunciar que AS HORAS DA MINHA ALEGRIA serão divididas com suas leitoras, com seus leitores, com os que tiverem a chance de degustar as palavras deste livro. 
Gosto da ideia da escritora Helena Parente, prefaciadora deste livro, quando ela nomeia seu prefácio de TRAVESSIA EM BUSCA DE UM LUGAR. Gosto de travessias,  vivi sempre próxima de muitas fronteiras - geográficas, sociais, culturais, políticas e até mesmo de uma fronteira que existe em todos nós, no espaço do que somos e no do que  queremos ser. Foi por essa razão, que eu me apressei para espreitar o final do livro... Descobri, então, e não sem grande alegria, que o sentimento de estrangeiridade, revelado em muitos momentos pela autora, cede lugar a uma parada estratégica. É quando ela decide “aportar” (p.126) por aqui, quando ela diz, movida pelas noites serenadas pela luz da lua: “É aqui mesmo que vou ficar” (p.126). Ficaria triste se assim não o fosse, mesmo sem saber se quem aporta é a amiga que eu quero por perto, ou se é a poeta que prefere ir e vir em busca de um lugar...
 Foi com a avidez  de uma leitora que se encanta com as palavras que percorri as páginas do livro de poemas de Izabel: poemas cujas rimas ultrapassam a métrica dos sentidos, palavras que constroem um paralelismo doído em Almas tristes - “sem terra, sem teto sem nada” (p.91), mas também em palavras que parecem se desprender do chão e pegar a rota do mar, valendo-me  aqui, mais uma vez, das palavras da autora.
Estrangeira? Exilada? Talvez apenas inquieta, uma inquietude que é saudável para quem quer se sentir vivo, para quem sente pulsar como a poeta, em seus Rumores errantes: “remotos desejos/arcaicos lampejos /como vagalumes piscando (...)” (p.76).
Toda retorno implica uma ida... Toda ida supõe um retorno... Esses movimentos no tempo e no espaço, quando descritos nas palavras da poeta – e aqui em me refiro especificamente à Izabel -, fazem saltar uma voz  que faz ecoar vozes interiores, nas quais se refletem tantas outras vozes de nosso entorno físico e espiritual.  São vozes que desnudam e revestem nosso ser, são vozes que clamam silenciosa e vorazmente como no “Sinal de trânsito”, uma “agonia [que] beira as bordas do coração” (p.86); são vozes que trazem “Verdes palavras na pele”, revelando, com um toque de esperança, que “Tudo isso é novo/ e esse começo, melhor, recomeço,/ é só leveza/ de novo (p.111).
De repente, na p.63, a poeta nos presenteia com a bela  imagem de um de seus versos (aliás, BELA sempre foi um adjetivo de valor SUBSTANTIVO na vida de Izabel). Falo do momento em que vamos encontrar a poeta “sentada na calçada /com as asas na mão”...  Asas que a autora nos dá quando tentamos acompanhar as partidas e as chegadas, as trilhas e as tramas que atravessam seus poemas.  Não há exatamente respostas nas poesias de Izabel  - a poesia não foi feita para dar respostas. Acho que foi essa a intenção – se é que podemos falar de intenção em se tratando de poesia -  do escritor Pablo Neruda em seu LIVRO DAS PERGUNTAS, no qual, entre suas indagações, o autor se perguntava: Onde terminará o arco-íris: dentro da alma ou no horizonte?
Acredito que o livro de Izabel, assim como o arco-íris de Pablo Neruda, vai nas duas direções, na da alma e na do horizonte; ou melhor, penso que vai na direção do horizonte da alma, pois esta pode fazer vislumbrar múltiplos horizontes.

Por isso, penso que poesia que se explica deixa de ser poesia, poeta que se conhece plenamente, deixa de ser poeta. Mas o coração de quem escreve a poesia, de quem vive a poesia, esse sim, pode-se reconhecer facilmente... E é ao coração da poeta Izabel que eu me dirijo, para agradecer pelo ENCONTRO que a vida promoveu entre nós, como companheiras de trabalho, como amigas, como seres humanos que reconhecem a provisoriedade do lugar em que nos instalamos e, por isso, vivem a inquietude da busca, mas nem por isso deixam de buscar a felicidade no lugar em que se encontram.

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